– Sinceramente, não consigo entender como nos confundem. Sou loiro, minhas roupas de astronauta são claras como uma lua cheia. Você é negro e geralmente está de terno escuro. Precisa estar muito cego ou ter tomado todas, em algum jazz club de New Orleans, pra confundir a gente.
– A confusão é por conta do “Armstrong”. Com exceção da origem norte-americana, nós não poderíamos ser mais diferentes.
– Literalmente, Armstrong quer dizer “braço forte”. Isso explica muita coisa, meu caro. Inclusive o fato de ter fincado tão firme a bandeira americana lá no solo lunar. Que momento mágico, que orgulho…
– Ouvi falar que está lá até hoje.
– É. Mas quando é hoje, heim? Há quanto tempo estamos aqui, vagando por estas plagas celestes? Acho que você morreu alguns anos antes de mim, Louis.
– Foi. Agora, cá pra nós: nessas cápsulas do tempo que – comenta-se – a Nasa andou mandando pro espaço, cheias de coisas geniais criadas pelo homem, tem alguma gravação minha? Não me deixaram de fora, né?
– Não sei te dizer, Louis. Até porque essa missão não foi minha. O que eu sei é o que todo mundo sabe. Essas fotos, discos, objetos, filmes, utensílios são itens que, se algum extraterrestre achar um dia, vai saber o que de melhor fizemos durante um certo tempo.
– Diz pra mim, quando você estava lá na lua, admirando a Terra azulzinha, não deu vontade de cantar aquela canção que eu gravei, “What a wonderful world”?
– Até cantaria, Louis. É tão linda, né? O momento era bem propício, mas acho que em 1969 você ainda não tinha gravado esta música.
– Tinha sim. O disco é de 1968.
– Tá certo. Ô xará, posso te pedir uma coisa?
– Fala, Neil.
– Toca aí “Fly me to the moon”… pra lembrar dos velhos tempos.
Esta é uma obra de ficção.
Texto de Marcelo Pirajá Sguassábia © Direitos Reservados