Entrevista com a Psicóloga Ana Cláudia sobre prevenção ao suicídio ‘Setembro Amarelo’, por Rafael Arcuri
1. Qual o impacto psicológico que uma exposição pública negativa pode causar em uma pessoa já fragilizada emocionalmente?
Uma exposição pública negativa pode ser devastadora para quem já está em sofrimento. Muitas vezes a pessoa já carrega sentimentos de tristeza, insegurança ou inadequação, e quando isso é reforçado em público pode surgir vergonha, medo e um desamparo muito intenso. Em vez de apoio, ela se vê ainda mais isolada e isso pode agravar quadros de ansiedade, depressão e sentimentos de desesperança.
2. Até que ponto a mídia ou páginas de grande audiência têm responsabilidade quando tratam casos íntimos e delicados de forma sensacionalista?
A responsabilidade é enorme, pois a forma como uma história é contada pode acolher e conscientizar, mas também pode aumentar o sofrimento e até gerar novos riscos quando há sensacionalismo. Por isso, influenciadores e jornalistas precisam refletir se o que estão divulgando irá ajudar ou prejudicar. Uma comunicação ética pode salvar vidas.
3. O suicídio costuma ser resultado de um único evento ou é consequência de uma série de pressões acumuladas?
O suicídio geralmente é resultado de um acúmulo de dores, pressões e fatores emocionais, sociais e biológicos. Mas é importante reforçar que mesmo quando parece que não há saída, o suicídio não é solução. Existe ajuda, tratamento e acolhimento e buscar um profissional de saúde mental faz muita diferença. E em momentos de crise e/ou emergência o CVV está disponível 24 horas por dia gratuitamente no número 188 ou no chat no site cvv.org.br.
4. Como a vergonha pública e o medo do julgamento social podem agravar quadros de depressão ou ansiedade?
A vergonha e o medo de julgamento podem paralisar a pessoa e fazer com que ela deixe de pedir ajuda, se isolando e se calando, o que é muito perigoso pois o silêncio aumenta a dor. Nos quadros de depressão e ansiedade, o julgamento social pode reforçar ideias negativas e dificultar ainda mais o processo de melhora. Precisamos, como sociedade, acolher mais e julgar menos.
5. Quando alguém tem sua vida íntima transformada em espetáculo público, quais mecanismos emocionais podem levá-la a sentir que não há saída?
Nessas situações a pessoa pode sentir que perdeu o controle da própria história. Isso pode gerar vergonha, impotência, medo, desesperança… a sensação é de que não existe mais espaço seguro. Mas alternativas existem: a psicoterapia, juntamente com o apoio de pessoas próximas, psiquiatria e também serviços como o CVV, podem ajudar a reconstruir a confiança e abrir novos caminhos.
6. De que forma a violação de segredos, como informações sigilosas em processos intensifica o sofrimento da vítima?
A violação de segredos é uma quebra de confiança muito grave, pois quando algo que deveria estar protegido vem a público, a pessoa pode se sentir traída, desamparada e exposta. Isso amplia ainda mais a dor porque não é só o que aconteceu, mas também a falsa sensação de que não há proteção nem amparo.
7. Qual é o risco de páginas de notícias ou influenciadores tratarem tragédias humanas como forma de entretenimento ou de disputa política?
Isso desrespeita a dignidade da pessoa, banaliza o sofrimento e pode até estimular comportamentos de risco em quem é mais vulnerável. Além de machucar quem já está em dor, transmite a mensagem perigosa de que a vida humana pode virar espetáculo.
8. O suicídio pode ser visto, em certos casos, como uma resposta desesperada a uma pressão social insuportável?
Sim, muitas vezes o suicídio aparece como uma resposta desesperada a uma dor que parece insuportável. Mas precisamos lembrar: o suicídio não resolve, ele interrompe uma vida que ainda poderia ser cuidada e transformada, é uma ação permanente para uma situação momentânea. Sempre existem alternativas, buscar apoio psicológico e médico abre novas possibilidades, mesmo quando parece que não há saída.
9. Na sua visão, como profissionais da comunicação poderiam contribuir para a prevenção do suicídio, em vez de reforçar a exposição e o estigma?
A comunicação pode ser uma grande aliada na prevenção e isso acontece quando se escolhe ética em vez de sensacionalismo, quando se dá espaço para falar de saúde mental e quando se mostra caminhos de acolhimento. A mídia tem um poder enorme: ela pode reforçar estigmas ou pode salvar vidas. A diferença está em como é feita essa comunicação.
10. Que mensagem a senhora deixaria neste Setembro Amarelo para aqueles que consomem conteúdos sensacionalistas, lembrando que por trás de cada manchete existe um ser humano?
A minha mensagem é: sempre lembrem que por trás de uma manchete existe uma vida real, com sentimentos, família e história. Quando consumimos e compartilhamos conteúdos sensacionalistas reforçamos essa lógica de exposição e dor. Que a gente escolha mais empatia, humanidade e respeito, não somente em setembro mas o ano todo. E se você que está lendo está em sofrimento, saiba que pedir ajuda é um ato de coragem.
Locais onde você pode buscar ajuda:
- Psicoterapia particular comigo ou outras psicólogas
- Psicoterapia e psiquiatria pelo SUS através do CAPS, Ambulatório de Saúde Mental (em São João) ou postos de saúde nas cidades em que esse serviço seja ofertado
- Faculdades com cursos de psicologia, em São João temos na UNIFAE e UNIFEOB
- Em casos de emergências no CVV pelo 188 ou pelo site
Você não está sozinha/o, e a sua vida importa!

🌟 Ana Cláudia Alves Scarabelo
📌 CRP/SP 06/156975
📱 WhatsApp: 19 97143-0817
📸 Instagram: @psicologa_anac
🎓 Formada pela UNIFAE, com pós-graduação em Psicologia Humanista com Abordagem Centrada na Pessoa, e Gestão Social: políticas públicas, redes e defesa de direitos.