Proálcool em Gel, o novo programa governamental de Buana-Xongas, é lançado e apresentado à imprensa com a pompa e a circunstância dignas do seu protagonismo estratégico em âmbito mundial.
Numa primeira fase de implantação, bilhões de litros de álcool em gel foram utilizados para queimar cem milhões e duzentos mil hectares de matas nativas, na região norte do país. Estas deram lugar a latifúndios imensos de cana, que por sua vez produzirão mais e mais álcool em gel padrão Ultra Max Quality Premium para exportação.
Para o brucutu recém-liberto da Covid, tataraneto do polêmico Presidente Donald (e que aos berros promete, tal qual o tataravô, fazer a América grande novamente, desde que possa continuar contando com o voto do típico ianque comedor de sandwich de pasta de amendoim), trata-se de um momento de gigantesca importância para a raça humana. “Álcool em gel é o elixir da vida e o novo ouro, a ele se rendem – inativados e inofensivos – coronavírus de todas as cepas e mutações. Podem apostar: a partir de hoje, nada e nem ninguém nos deterá. Nossa sólida parceria com Buana-Xongas significará a prosperidade que tanto queremos resgatar”.
Em meados do ano passado, após a 192a onda de contaminação multicontinental, que em duas semanas varreu da Austrália o equivalente a 26% de toda a população do Tennessee, líderes do mundo todo anunciavam com alívio o final da pandemia. Na ocasião, quase todo o estoque mundial de álcool em gel consumiu-se na festa de passagem de ano 2134-2135, utilizado para tocar fogo em quatrilhões de máscaras de proteção até então em uso no planeta.
O anúncio foi um grande chabu retórico, como hoje todos sabem. Descrentes do fim do suplício, especuladores visionários estocaram preventivamente algumas centenas de piscinas olímpicas repletas de álcool em gel. Foi a nossa salvação. Não fosse esta pequena reserva, a humanidade não teria como se defender da praga até que o novo Proálcool se implementasse como sistema. Mas, agora sim, podemos ficar tranquilos. Felicitemos uns aos outros, em solidários e saudosos apertos de mão.
Esta é uma obra de ficção.
Texto: Marcelo Sguassábia © Direitos Reservados