Por Sofia Rodrigues do Nascimento.
“A mulher do fim do mundo é aquela que busca, é aquela que grita, que reivindica, que sempre fica de pé. No fim, eu sou essa mulher”
A frase da imortal Elza Soares reflete bem o espírito de uma mulher batalhadora, que não se deixou cair pelas inúmeras dificuldades pela qual passou, desde a morte de um filho por fome, a violência dentro de casa e o machismo contra as mulheres.
Falecida em janeiro, aos 91 anos, Elza cantou até o fim e deixou um legado para a música brasileira e para a sociedade: as mulheres não devem se calar, as mulheres devem se ajudar.
Sim, precisamos cada vez mais fazer ouvir nossa voz. Nossa sociedade foi construída tendo como base o pensamento do homem, onde a mulher é serviçal sexual e de afazeres domésticos. Mas, graças a mulheres como Elza isso vem mudando gradualmente e nós galgamos cada vez mais posições estratégicas de comando, onde podemos mostrar do que somos capazes.
Temos vários exemplos de mulheres que estão à frente de poderosas empresas e instituições, mas quero destacar o imenso contingente de mulheres que fazem parte do Sinsaúde. O Sindicato abrange 172 cidades no interior paulista, onde estão cerca de 82 mil trabalhadores em estabelecimentos de saúde, sendo 80% mulheres. São essas heroínas que se dividem diariamente entre as tarefas domésticas, estudos e a profissão de cuidar de vidas. É uma rotina árdua, de pouco reconhecimento profissional e salarial.
Segundo dados do relatório da ONU Mulheres Brasil, as mulheres são a principal força de trabalho da área da saúde no país, ocupando quase 70% dos cargos. E a presença feminina na saúde ficou bem evidente durante a pandemia que assolou o país nos últimos dois anos. Foram elas que tomaram a linha de frente do combate à Covid-19, com consequências muitas vezes letais.
Diante desse universo feminino, o Sinsaúde tem lutado para incluir novos direitos nos acordos e convenções trabalhistas. É uma luta árdua, que encontra resistência dos administradores de estabelecimentos de saúde na simples instalação de duchas higiênicas ou no fornecimento de absorventes higiênicos. Mas só conquistaremos mais benefícios com mais mulheres participando não só do sindicalismo, mas da sociedade, da política, na escola, no bairro, no condomínio. A mudança deve ocorrer em conjunto, unindo partes para formar um todo.
“Falta mulher na política. Eu tenho tanta vontade de vê-las de mãos dadas, se ajudando.”
Elza Soares
Este ano é decisivo para o futuro do país, com as eleições para presidente da República, governadores, deputados e senadores. É importante que mulheres se candidatem para que possam defender nossos objetivos em um universo político basicamente masculino. Não podemos mais tolerar o evidente machismo nas esferas do Executivo e Legislativo nacional. Ademais, em 2022 completamos 90 anos da liberação do voto feminino no Brasil. Precisamos dar nosso exemplo de unidade e aproveitar para mostrar nossa influência no resultado das urnas.
Nós temos potencial, capacidade e muitos outros bons adjetivos para conquistar o que almejamos. No entanto, as diferenças salariais, de cargos, de respeito, de oportunidades, de reconhecimento entre os sexos opostos ainda prevalecem. Por isso, em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o principal presente é a sociedade refletir sobre a condição feminina no mundo e debater a igualdade entre mulheres e homens, sem que as diferenças biológicas sejam pretextos para diminuir o valor da mulher.
Queremos um Brasil sem machismo, racismo e violência, seja ela física ou psicológica. Queremos respeito, segurança, oportunidades e representatividade. Siga o conselho de Elza Soares, não fique calada, não sofra em silêncio. Faça ouvir sua voz. Mulheres, se apoiem e sigam buscando a evolução dos seus direitos.
*Sofia Rodrigues do Nascimento é presidente do Sinsaúde, Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Saúde que abrange 172 municípios do interior paulista e um universo de 80 mil trabalhadores